Maior produtor de café do Brasil, Minas Gerais é contra a importação de grãos do Vietnã proposta pelo Ministério da Agricultura e que será avaliada pela Câmara de Comércio Exterior (Camex) no dia 22. Em nota, a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) condenou a decisão do Comitê Executivo de Gecex (Gestão da Câmara de Comércio Exterior) que aprovou, na terça-feira, por una­nimidade, a importação, nos próximos dois anos, de 1 milhão de sacas de café conilon (uma das duas variedades do grão, muito usado para fazer café solúvel).

Ainda é necessário o aval do conselho da Câmara, para que a decisão seja confirmada. A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e a FAEMG também condenam essa importação. Segundo o secretário de Agricultura, Pedro Leitão, a entrada de grãos de café de outros países pode introduzir doenças e pragas não existentes e afetar toda a pro­dução nacional. O maior produtor de conilon no Brasil é o Espírito Santo. Minas produz as duas qualidades – sendo que a maior produção é da variedade arábica.

Ainda de acordo com o secretário, a abertura de tal precedente causa enorme preocupação entre os produtores mineiros, que destinam 83% de sua s­fra ao mercado externo. A importação foi autorizada devido à redução da safra do conilon causada pela falta de chuvas no Espírito Santo, o que diminui drasticamente o estoque desse grão no mercado. A redução também contribuiu para a elevação recorde do preço da sa­ca, trazendo dificuldade para a indústria brasileira, maior produtora de café solúvel do mundo.

A Associação Brasileira da Indústria do Ca­fé (ABIC) foi favorável a essa importação para forçar a queda dos preços pagos aos produtores. Na avaliação de Pedro Leitão, é inoportuna a importação para atender um segmento do mercado, porque, além de impactar negativamente a produção interna, pode abrir caminho para que o Brasil, no futuro, comece a importar também o grão Arábica, desestruturando o agrone­gócio . “A avaliação deve ser feita com visão presente e futura do agronegócio café para não caminharmos na contramão da história. Somos, tradicionalmente, grande produtor e exportador de café e se a flexibilização da importação se confirmar, essa será a primeira vez em muitos anos que o Brasil importará café verde”, afirma o secretário.

O secretário adjunto de Agricultura, Amaril do Kalil, diz que o governo alega ser necessário estoque de cerca de 5 milhões de sacas de conilon para garantir a produção industrial, mas, no momento, existe a garantia de apenas 1,5 mi­lhão de sacas aproximadamente. O café importado, segundo ele, virá do Vietnã na forma de grãos verdes. “Um risco sanitário maior ainda, porque quando o café não é torrado ele pode conter pragas que podem destruir a produção brasileira”.

SURPRESA

Breno Mesquita, diretor financeiro da Faemg e presidente da Comissão Nacional do Café da CNA, afirma que os produtores foram pegos de surpresa com a decisão da Gecex. Ele conta que antes dessa aprovação foram feitas várias reuniões para tentar convencer o governo a não autorizar essa importação. Na sex­ta-feira passada, relata Breno, os produtores entregaram ao ministro da Agricultura, Blairo Maggi, a relação de todo o estoque que, segundo eles, é de 4 milhões de sacas, o que dispensaria a importação. A CNA tenta marcar uma reunião com o presidente Michel Temer para discutir o assunto. “Isso é um atentado a uma produção de mais de 300 anos que industrializou o país e gera hoje cerca de 8,5 milhões de empregos diretos e indiretos”. Ele também afirma que o mercado brasileiro, o maior do mundo em consumo de café, é extremamente cobiçado e pode ser afetado com futuras aberturas de importação, principalmente de países como o Vietnã, maior produtor de conilon do mundo. Além disso, aponta Breno, as condições sanitárias e de produção de café naquele país não são consideradas boas pelos produtores e o custo da saca é muito baixo.

 

Fonte: Senar Minas